Degradação Ambiental e Sustentabilidade
- Prof. Dr. Julio Cesar Rosa
- 4 de mar. de 2017
- 5 min de leitura
Atualizado: 27 de set. de 2020

O modelo socioeconômico predatório de desenvolvimento da sociedade é insustentável e consome intensamente os recursos naturais fundamentais à manutenção da vida. O crescimento rápido e desordenado das cidades provoca déficits ainda insuperáveis na educação, na saúde e no saneamento, contribuindo, dessa forma, para o acumulo de resíduos, proliferação de algumas espécies de mosquitos, roedores, entre outros animais sinantrópicos (LAPORTA e col., 2006).
Na atualidade, percebemos não apenas um acelerado impacto ambiental e extinções de seres vivos, mas um aumento da pobreza, da fome, da violência, da evolução de diversas doenças e da exploração humana, resultando numa grave crise planetária (PITANGA, 2016).
A degradação do ambiente, a ocupação das cidades pelos carros e a verticalização da moradia são alguns dos fatores problemáticos da sociedade contemporâneo, tendo uma associação com diversos tipos de doenças, principalmente as “doenças da civilização”, dentre elas, as patologias das coronárias e o câncer. A qualidade precária de vida nas grandes cidades podem gerar enfermidades relativas ao stress; o cigarro e a poluição favorecem doenças bronco pulmonares; intoxicações por mercúrio, chumbo e por vários pesticidas podem causar necroses renais (NATAL e col., 2014).
A precária infraestrutura de habitação, de coleta de lixo e de abastecimento de água em áreas urbanas está entre as principais causas do ressurgimento de doenças transmitidas por vetores, entre elas, a dengue. Os resíduos sólidos urbanos, ou seja, o lixo que constitui uma preocupação ambiental, principalmente em grandes cidades de países subdesenvolvidos, resulta em agravos à saúde e degradação ambiental (REGO e col. 2002). A produção cada vez mais intensa de embalagens e produtos descartáveis provoca o acúmulo do lixo, podendo liberar odor desagradável e intensificar proliferação de vetores.
A reciclagem é importante para o tratamento de resíduos, porém parcela significativa de coletores encontram-se numa situação precária realizando atividades insalubres (PINHEIRO e col., 2014).
Os esgotos domésticos compreendem os resíduos líquidos provenientes de instalações sanitárias, lavagem de roupas, de utensílios domésticos e outras atividades executadas nas casas e prédios. Há grande quantidade de matéria orgânica que consome o oxigênio da água devido à proliferação das bactérias (MOTA 1999).
Aproximadamente 3% da água do planeta é doce, sendo que apenas 0,7% desse montante encontra-se na forma de rios e lagos; portanto água doce é um recurso limitado e, infelizmente, observamos que o homem degrada o solo que lhe dá alimento, polui o ar que respira e envenena a água que bebe, através dos esgotos, resíduos químicos, garimpos, agrotóxicos e detritos industriais, facilitando desta maneira a disseminação de doenças como a cólera, a dengue, a esquistossomose, a malária, a febre amarela, bem como diversas viroses e bacterioses (ROSA, 2003).
A palavra desenvolvimento, entre outros significados, implica adiantamento, crescimento, progresso e aumento. Trata-se de estágio político, econômico e social de uma comunidade, caracterizado por altos índices dos fatores de produção, ou seja, os recursos naturais, o capital e o trabalho (FERREIRA, 1998).
O termo Desenvolvimento Sustentável se disseminou intensamente a partir de 1987 através do relatório da Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento conhecida como Comissão Brundtland - NOSSO FUTURO COMUM, passando a ser citado nos documentos de órgãos de financiamento, por empresários, políticos e outros atores sociais. Esse conceito tem sido muito discutido e utilizado com propósitos diversos, inclusive, com o objetivo de ratificar posições, políticas- ideológicas que defendem os interesses capitalistas e de manutenção da situação socioeconômica cultural vigente, que mantém as desigualdades sociais (DIEGUES, 1992).
Este termo se baseia na necessidade de atingir o ápice de “desenvolvimento” obtido pelos chamados países industrializados. O perfil de desenvolvimento dessas sociedades está alicerçado num consumo exacerbado de recursos naturais, principalmente aqueles provenientes dos países em desenvolvimento o que será insustentável em médio e longo prazo (PELICIONI, 2002).
Há uma corrente teórica que defende o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, construído durante encontro internacional, na cidade do Rio de Janeiro em 1992 (SATO, 2002).
Segundo Rodrigues (1996), uma sociedade sustentável vive e se desenvolve integrada à natureza, considerando-a um bem comum, respeitando a diversidade biológica e a pluralidade sociocultural. O desenvolvimento deve ser construído no exercício responsável e consequente da cidadania, o que demandaria distribuição equitativa das riquezas produzidas. No ano de 1965, foi citado o termo Environmental Education (Educação Ambiental) na Conferência em Educação na Universidade de Keelle, Inglaterra. Nessa oportunidade, foi aceito que a educação ambiental deveria tornar-se parte primordial da educação de todos os cidadãos (DIAS, 2010).
Na Grã-Bretanha, naquele mesmo ano, implantou-se o Conselho para Educação Ambiental, para coordenar as entidades envolvidas com a educação e meio ambiente. Na França e nos países nórdicos foram elaboradas algumas deliberações ministeriais, parlamentares e de órgãos centrais do sistema educacional, estimulando a introdução da educação ambiental no currículo escolar (SORRENTINO, 1995).
A Educação Ambiental é um processo de ensino-aprendizagem para o exercício da responsabilidade social, política, econômica e ambiental. Ela permite a identificação e o entendimento dos problemas socioambientais e suas possíveis soluções (PELICIONI, 2002).
Os recursos necessários à manutenção da vida deveriam ser usados conforme a capacidade natural de renovação dos biomas, o que promoveria processo favorável à garantia de condições equilibradas de vida para as gerações atuais e futuras.
Referências Bibliográficas
DIAS, G.F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 9ª ed. São Paulo: Gaia; 2010.
DIEGUES, A.C.S. Desenvolvimento sustentável ou sociedades sustentáveis: da crítica dos modelos aos novos paradigmas. São Paulo. Perspec; 1992; 6 (1/2): 22-9.
FERREIRA, A.B.H. Dicionário Aurélio básico da língua portuguesa. São Paulo: Nova Fronteira; 1998.
LAPORTA, G.Z.; URBINATTI P.R.; NATAL D. Aspectos ecológicos da população de Culex quinquefasciatus Say (Diptera, Culicidae) em abrigos situados no Parque Ecológico do Tietê, São Paulo, SP. Rev. Bras. entomol 2006; 50(1): 125-127.
MOTA, S. Urbanização e meio Ambiente. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Engenharia Sanitária (ABES); 1999.
NATAL, D.; ROSA, J.C.; URBINATTI, P.R. Epidemiologia Ambiental. In: PHILIPPI, A. e PELICIONI, M.C.F. (Org.). Educação Ambiental e Sustentabilidade. 2.ed.: Barueri, 2014. p. 85-123.
PELICIONI, A.F. Educação Ambiental Limites e Possibilidades de uma Ação Transformadora. São Paulo; 2002 [Tese de Doutorado – Faculdade de Saúde Pública da USP].
PINHEIRO, L.R. e col. Sujeitos, políticas e educação ambiental na gestão de resíduos sólidos. Educ. Real. Porto Alegre, v. 39, n. 2, p. 535-556, jun. 2014
PITANGA, Â.F. Crise da Modernidade, Educação Ambiental, Educação para o Desenvolvimento Sustentável e Educação em Química Verde: (Re)Pensando Paradigmas. Ens. Pesqui. Educ. Ciênc. (Belo Horizonte). 2016, vol.18, n.3, pp.141-159.
REGO, R.C.F; BARRETO M.L; KILLINGER, C.L. O que é lixo afinal? Como pensam mulheres residentes na periferia de um grande centro urbano. Cad. Saúde Pública 2002; 18(6):1583-1592.
RODRIGUES, V.R. Coordenadora. Muda o mundo, Raimundo! Educação ambiental no ensino básico do Brasil, Brasília (DF), Fundo Mundial para a Natureza - WWF; 1996.
ROSA, J.C. Vida no Planeta Azul. Jornal do Conselho Regional de Biologia, São Paulo, 2003, jan; p. 4.
SATO, M. Educação Ambiental. São Paulo: RIMA; 2002
SORRENTINO, M. Educação Ambiental e Universidade: um estudo de caso. São Paulo, 1995. [Tese de Doutoramento – Faculdade de Saúde Pública da USP].
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